Camões fê-la amada, e foi rebelde!
A voz de um poeta traz realmente, como alguém escreveu, o destino de ser a má consciência do seu tempo, quando “má” significa a impetuosidade transgressora de fugir aos cânones e refundar a moral. Daí este nosso cumprimento camoniano (ou camonista), que ama o amor de Bárbara escrava, numa altura em que a negritude não era objecto de amor, mas de opressão. A língua vê melhor desde Camões, refundada num idioma que deixa de ser cor para se instituir como timbre: e a cativa que o tinha cativo liberta-se um pouco, no golpe de asa do poeta.
Mas não nos contentemos.
Bárbara foi ainda objecto de amor, deitada placidamente no poema de outrem. Ao contrário, desobjectivada, Bárbara ressurge como símbolo, como possibilidade de ser sujeito no canto de homenagem de Manuel Alegre, quando escreve, piscando o olho à Bárbara de Camões: “Em Bárbara a diferença que faltava/ E nunca mais na língua uma só cor”!
Quando hoje, em pleno metro do porto, assistimos a um suceder de comentários racistas (e sexistas) visando alguém que comete o clamoroso pecado de se ter enganado na linha, vemos uma espécie de agressão a essa “diferença que faltava”, antes ainda de Camões, numa língua que já se percebia como “cosmopolita”, ainda que falha em entender, como o fez Alegre, que “antes de Bárbara a Europa era tão pouca”.
E Camões se faz profeta; e o Alegre se fez triste! Quando as distâncias entre pessoas parecem mais agravadas no rápido deslizar de um metro citadino.
A voz de um poeta traz realmente, como alguém escreveu, o destino de ser a má consciência do seu tempo, quando “má” significa a impetuosidade transgressora de fugir aos cânones e refundar a moral. Daí este nosso cumprimento camoniano (ou camonista), que ama o amor de Bárbara escrava, numa altura em que a negritude não era objecto de amor, mas de opressão. A língua vê melhor desde Camões, refundada num idioma que deixa de ser cor para se instituir como timbre: e a cativa que o tinha cativo liberta-se um pouco, no golpe de asa do poeta.
Mas não nos contentemos.
Bárbara foi ainda objecto de amor, deitada placidamente no poema de outrem. Ao contrário, desobjectivada, Bárbara ressurge como símbolo, como possibilidade de ser sujeito no canto de homenagem de Manuel Alegre, quando escreve, piscando o olho à Bárbara de Camões: “Em Bárbara a diferença que faltava/ E nunca mais na língua uma só cor”!
Quando hoje, em pleno metro do porto, assistimos a um suceder de comentários racistas (e sexistas) visando alguém que comete o clamoroso pecado de se ter enganado na linha, vemos uma espécie de agressão a essa “diferença que faltava”, antes ainda de Camões, numa língua que já se percebia como “cosmopolita”, ainda que falha em entender, como o fez Alegre, que “antes de Bárbara a Europa era tão pouca”.
E Camões se faz profeta; e o Alegre se fez triste! Quando as distâncias entre pessoas parecem mais agravadas no rápido deslizar de um metro citadino.
1 comentário:
gostei muito. volto mais vezes
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